Namorados na adolescência, casal cearense realiza o sonho do casamento após 46 anos juntos

 Mary Ann Nóbrega e Francisco Nóbrega protagonizam uma história de amor que c...

A história de amor de Mary Ann Nóbrega, 74, e Francisco Nóbrega, 76, é parecida com o que se costuma encontrar em livros e filmes de romance que retratam relacionamentos quase impossíveis. Indo muito além da ficção, o casal é protagonista de uma união que começou na adolescência, mas que passou por muitos desafios até que pudesse ser finalmente oficializada de forma religiosa, no dia 10 de setembro deste ano.

Tudo começou por volta da década de 1960, quando Mary Ann, aos 13 anos, conheceu Francisco, de 15. Naturais de Fortaleza, os adolescentes se viram pela primeira vez por meio da ajuda involuntária do irmão da então menina, que na época estudava junto daquele que viria a ser o primeiro namorado de sua irmã, no Ginásio Municipal da Capital.

O encontro despretensioso entre os dois aconteceu quando Francisco foi estudar junto ao irmão de Mary Ann na casa da família da adolescente. Os dias de estudos, desde então, passaram a se repetir com mais frequência entre os dois amigos, que decidiram convidar um colega em comum deles, Brito, o qual viria a se interessar por uma das irmãs da menina.

De forma descontraída, Mary Ann conta que o interesse por Francisco foi imediato. "Ele e o Brito iam para a minha casa estudar com o meu irmão, enquanto eu e uma de minhas irmãs ficávamos escondidas olhando pela fechadura da porta, para escolher quem a gente ia querer. Eu dizia: 'Eu quero aquele ali que tem cara de safado'", relembra.

Sem perder tempo, apesar da pouca idade, os adolescentes logo começam a namorar após receber aprovação dos pais da menina. Paralelamente, Brito e a irmã da adolescente também iniciaram um relacionamento. A diferença entre os casais é que um deles, Mary Ann e Francisco, estavam começando naquele dia um elo que, apesar dos pesares, seria para a vida toda.
Início e fim

Sendo o primeiro namoro dos dois, tudo parecia mágico no início. O primeiro pesar da história de Mary Ann e Francisco, no entanto, veio pouco tempo depois, após uma aposta aparentemente inocente feita entre o adolescente e Brito: quem daria mais beijos em suas respectivas namoradas em uma noite de encontro na casa das duas, sob a supervisão do pai, Idelfonso.

"Quando a contagem de beijos estava mais ou menos em 10x2 para o Brito, o pai delas se levantou e foi dar um murro nele. Brito se desculpou e saiu correndo. A mãe dela, então, me mandou embora também, dizendo que seu Idelfonso tinha ido buscar o revólver dentro de casa. Depois disso, o pai dela disse que não queria mais o nosso namoro", conta Francisco.

O adolescente ainda tentava se encontrar com a amada, rondando a cada da família de Mary Ann, sem muito sucesso. Foi por conta das tentativas de encontros do casal que a mãe da menina, Maria Carmosa, aconselhou a filha a colocar um ponto final no relacionamento, temendo que o esposo, em um momento de fúria, pudesse tomar uma atitude impensada.

Tempos depois, ainda triste com o fim do primeiro amor, Mary Ann fugiu de casa para se encontrar com quem viria a ser seu primeiro esposo. Este, porém, surpreendentemente, não era Francisco. Em busca da filha que parecia estar desaparecida, Idelfonso encontra a adolescente, na época com 15 anos, escondida na casa do novo pretendente.

A fuga, segundo Mary Ann, foi inocente. Ela sempre admirou histórias de amor em que o casal fugia, então tentou fazer o mesmo, mas com outra pessoa que não fosse Francisco. Quando o pai da menina a encontrou, pensou errado sobre a situação, tendo certeza que a filha e o rapaz tinham se relacionado sexualmente. Por essa razão, a adolescente precisou se casar aos 15 anos.

O casamento, no entanto, durou apenas dois anos, mas resultou no nascimento dos dois primeiros filhos de Mary Ann. Entre os 17 e 18 anos, ela se separou do seu primeiro esposo, decidida a pedir a anulação da união. Ao mesmo tempo, Francisco, que não tinha mais nenhum contato com o amor da adolescência, estava noivo de outra mulher, prestes a se casar.

Já solteira e sentindo falta de Francisco, de quem não tinha nenhuma notícia há muitos anos, Mary Ann liga para o trabalho dele, no Banco do Nordeste, na tentativa de conseguir falar com o amado. Ao escutar a voz do rapaz, porém, ela não conseguiu se identificar e apenas perguntou como ele estava. Temendo que fosse uma investida de uma mulher desconhecida, Francisco falou que estava noivo.

A notícia do noivado foi suficiente para chocar Mary Ann ao ponto de fazê-la desligar a ligação imediatamente. "Na época, eu já estava noivo da minha primeira esposa. Se ela tivesse se identificado, eu não teria casado", garante Francisco, que se casou pouco tempo depois e permaneceu no primeiro casamento por cinco anos, resultando também no nascimento de seus dois primeiros filhos.
Com os seus, com os meus e com os nossos

Assim como Mary Ann, a primeira união de Francisco não deu certo. O relacionamento foi iniciado pelo rapaz sem a aprovação da família, resultando em uma união marcada por diversos desentendimentos. Estando novamente solteiro, foi inevitável que ele logo não pensasse no seu amor da adolescência. Foi quando tomou conhecimento, por meio de Brito, que ela também estava solteira.

Sabendo onde encontrá-la, o rapaz passou a tentar se reaproximar da amada, que resistiu bastante inicialmente por receio e por marcas do primeiro casamento. "Até ela aceitar se envolver novamente comigo, foi todo um processo. Ela queria acreditar que eu estava realmente separado para poder ter alguma coisa comigo novamente", explica Francisco.

A resistência por parte de Mary Ann não durou muito tempo e o casal novamente retomou a história de amor de onde tinham parado na adolescência. Dessa vez, já adultos e cada um com dois filhos, o relacionamento dos dois já não era impedido pelo pai da jovem, que acabou se tornando amigo de Francisco com o passar do tempo.

Pouco depois, uma grande novidade: o primeiro filho do casal. "Eu tinha terminado o curso de Enfermagem e fui para a Bahia fazer residência. Nessa época, ele pediu férias do Banco do Nordeste e foi passar um mês lá. Quando passou esse período, eu fui fazer um teste de gravidez e descobri que estava grávida", relembra Mary Ann.

O segundo filho do casal veio quatro anos depois. Para passear com todos os seis filhos, resultado do primeiro casamentos de ambos e do atual relacionamento, Francisco dizia: “Vamos com os seus, com os meus e com os nossos”. Hoje, ele ainda gosta de fazer uma charada com a situação: “Eu tenho quatro filhos, Mary Ann gerou quatro filhos e, ao todo, nós temos seis”.

A oficialização civil da união só aconteceu quando os filhos do casal estavam com 12 e 8 anos de idade. O sonho dos dois, principalmente de Mary Ann, era de realizar o casamento religioso, com direito a festa, bolo de casamento, vestido branco e uma linda decoração. A celebração da união, porém, teve de ser adiada por 34 anos em decorrência da não anulação do primeiro casamento de Francisco.
Realização de um sonho antigo

A celebração religiosa da união de Mary Ann e Francisco só foi possível graças à ajuda da filha mais velha do casal, Emilene Nóbrega. Como a Igreja Católica não permitia a realização do festejo de forma oficial com um padre pela falta de anulação do primeiro casamento de Francisco, foi preciso recorrer para uma segunda opção.

"Eu tentava consolá-los dizendo que o amor deles não precisava dessa formalidade, mas acabei descobrindo a Igreja Católica Apostólica Brasileira. Fui atrás e consegui falar com um padre, que disse que celebraria o casamento sem nenhum problema. A esperança dos meus pais de fazer a celebração do casamento foi renovada", explica Emilene.

O sonho antigo da festa de casamento, que nasceu ainda na adolescência, aconteceu 34 anos depois do casamento civil, no dia 10 de setembro deste ano, no salão de festas do condomínio em que mora o filho mais novo do casal, em uma cerimônia intimista para familiares e amigos mais próximos. Ao todo, Mary Ann e Francisco possuem 46 anos de união.

Mesmo marcada pelo fim abrupto do relacionamento ainda na adolescência, por outros casamentos e pelo receio de dar uma nova chance para um amor que nunca tinha deixado de existir, o casal tem uma união feliz, marcada por momentos inesquecíveis. A relação frutificou, dando, ao todo, seis filhos para os dois, seis netos e dois bisnestos para Mary Ann, e quatro netos para Francisco.

Apesar da contagem confusa, os filhos, os netos e os bisnetos são para um a mesma coisa que são para o outro, sem distinção por não haver ligação de sangue entre todos. "Considero os filhos, os netos e os bisnetos dela como meus. E ela considera meus filhos e meus netos como dela também", completa Francisco.

 

(O Povo)

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