Família enfrenta dificuldade para trazer corpo do turista brasileiro que morreu em Ushuaia de volta ao país, dizem amigos

 O publicitário Dennis Cosmo Marin, de 37 anos, que morreu na última quarta-feira (2) atingido por uma placa de gelo em Ushuaia, na Argentina. — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Segundo as pessoas próximas da família, o custo de transporte do corpo do corpo de Dennis para São Paulo deve ultrapassar a marca de R$ 120 mil.

Por causa do alto custo do transporte, o grupo resolveu então se mobilizar nas redes sociais para realizar uma arrecadação em ajuda aos familiares do rapaz.

O dinheiro arrecadado, segundo os amigos ouvidos pelo g1, será usado para o transporte do corpo por avião, o pagamento do IML, além da transferência da Kombi de viagem e da gata Lince de volta ao país.

Em vídeo publicado no canal deles, o casal publicou imagens desde o primeiro encontro com o paulistano, no Chile, e até os últimos momentos de Dennis em Ushuaia.

"Essa é a nossa homenagem que a gente tem. São momentos bons juntos. Tivemos muito momentos bons, não só quando a gente estava gravando. A Lince já ficou muitas vezes no nosso carro. Uma amizade muito boa que a gente criou".

"Parecia que éramos amigos de infância. Uma pessoa muito boa, amigável. Estava sempre pronto para ajudar. Tivemos momentos muito felizes e maravilhosos. Todos os momentos com o Dennis foram maravilhosos", ressalta o casal.

O casal ainda relatou que após o susto com a notícia, comunicada por policiais, já pensaram na Lince, que estava dormindo dentro da Kombi.

Casal de amigos cuida de gata de brasileiro morto na Argentina — Foto: Reprodução/Youtube

"A gente sabia que ela estava ali dormindo, tranquila. Então, os policiais começaram a falar que iam levar ela para uma espécie de abrigo municipal. A gente não aceitou. Dissemos que íamos ficar com a gata".

"Ai fui entender o procedimento deles. A Kombi, eles lacraram para fazer perícia. Com isso, eles começaram a falar que a gata ia para esse local e eu não deixei, sabe lá onde iam levar. Conversei com o policial e o policial entrou em contato com pessoas, falando que ia fazer um termo de responsabilidade, que assinei. Policiais permitiram que eu só tirasse a ração da Kombi. A caixa dela, roupas, casinha, não foi possível retirar", ressaltou Rafael.

Adriana diz que entrou em contato com a mãe de Dennis e que combinou de levar Lince para o Brasil.

"Tem momentos que eu choro muito, porque o Dennis era nosso amigo. Mas aí eu penso que tenho que confiar em Deus, porque ele está em um lugar muito melhor que aqui. A Lince me ajuda a lembrar dele de um jeito feliz".

Caverna

Paulistano morre em acidente numa caverna do Ushuaia, na Argentina

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Rafael ainda usou o espaço do canal para relatar como ficou sabendo da morte de Dennis, que foi atingido pelo gelo em uma área de acesso proibido conhecida como "Cueva de Jimbo", ou Caverna de Gelo, dentro do Parque Nacional da Tierra del Fuego.

"Ontem a gente passou o dia no camping sozinhos e o Dennis já havia comentado que queria fazer essa trilha. Nem sabíamos que trilha era, nem fazia ideia. A gente só ficou sabendo quando os policiais vieram com a chave da Kombi dele. Eu vi que os policiais apertavam a chave e vi que a luz piscou. Aí pensei 'como eles tinham a chave?'. Fui tentar saber, e o policial apontou a mão para o carro e fez assim [mão apontado para o céu]. Foi um impacto muito grande. A Adri estava no vidro bem quando ele apontou para o céu. Ela despencou, ficou sem chão. Eu também. A gente estava sozinho", contou.

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Desde outubro de 2018, Dennis e a gata de estimação Lince estavam viajando de Kombi pela América do Sul, o que chamava atenção dos internautas pelo animal ter "espírito aventureiro" e se adaptar facilmente nos novos lugares.

O brasileiro tinha um perfil no Instagram chamado 'Ô de Kombi', onde se apresentava como contador de "stories" e mensageiro "natural de coisas naturais". Além disso, dizia que estava "em busca de autonomia".

Gata Lince durante viagem de Kombi com Dennis Cosmo Marin — Foto: Reprodução/Instagram

Quatro meses após iniciar a jornada pelas estradas, Dennis compartilhou que a gata tinha a Kombi como casa muito antes dele de começarem a viajar. No relato, ele ainda revela que o portão da 'casa' passou a ser a porta traseira do veículo.

"Nascida em Sorocaba, aos 6 anos embarcou em uma grande aventura de kombi. Antes disso, o costume de Lince era dormir quase o dia todo, comer um montão, tomar um solzinho logo cedo e no meio da madrugada espiar o movimento da rua por debaixo do portão, sentindo os cheiros e atenta aos barulhos orquestrados por gatos, ratos e cães na madrugada. Desde o dia que estacionamos a kombi pela primeira vez, antes das reformas, a Lince já entrava nela e dormia em todos os cantos, além de subir no teto", contou.

"Com 4 meses de estrada, seu portão passou a ser a porta traseira da kombi, que vira e mexe está aberta durante as noites. Dali ela observa o movimento noturno de diversos lugares por onde estamos passando. Entre galinhas, pintinhos, lagartos, gatos, cachorros, banhos de rio, essa gata só nos surpreende entre nossas chegadas e partidas. Na Kombi, assim que damos a partida para pegar a estrada, ela vem pulando e se acomoda na almofadinha que fica no banco da frente".

Dennis compartilhava viagens que fazia com a gata de estimação — Foto: Reprodução/Instagram

Dennis também costumava compartilhar como fazia para que Lince se adaptasse nos novos lugares.

"Se chegamos de noite, só a soltamos no dia seguinte, para devagarinho ela ir se ambientando e sentirmos qual é o movimento por ali. Quando ela sai, uma das primeiras coisas que faz é rolar no chão. Achamos que é para camuflar o próprio cheiro. Sai sempre a procura de um piso gelado pra enredar aquela soneca. Gostamos de deixá-la solta, mas nem sempre rola, por conta de outros bichos".

"Sempre que chegamos onde vamos ficar, ela percebe um pouco antes, já apoia suas patinhas no vidro da janela e coloca a cabeça para fora observando com ares de novidade e balançando o rabinho caramelo".

Guadalupe Rausch Tomazzoli é terapeuta comportamental de gatos e conheceu Dennis e Lince no período que ficaram em São Francisco de Paula (RS). Ao g1, ela contou que chamava atenção a maneira como o paulistano adaptou Lince para o novo estilo de vida.

"Eles moravam em apartamento, e para o processo de adaptação, primeiro adaptou ela para a Kombi. Deixava a Kombi aberta para ela entrar e se acostumar. No início foi mais difícil, até entender as necessidades mais específicas da Lince e adaptar a Kombi e a viagem ao ritmo dela. Logo, a Kombi é a referência de casa que a Lince tem, com o cheiro dela".

Investigação na Argentina

Dennis passou por cidades do estado do Rio de Janeiro, da região sul do Brasil, Guiana Francesa, Suriname e Uruguai. Na última semana, ele chegou a compartilhar vídeos e fotos do Ushuaia, inclusive de caminhadas feitas já na Tierra del Fuego.

Em nota, o Itamaraty afirmou que o Ministério das Relações Exteriores, por meio "do Consulado-Geral do Brasil em Buenos Aires, vem prestando a assistência cabível à família da vítima, em coordenação com as autoridades locais e em conformidade com os tratados internacionais vigentes e com a legislação local."

A Comissão de Auxílio do Ushuaia, um grupo civil dedicado a resgates na região, publicou um comunicado nas redes sociais alertando que "o acesso a esta caverna é proibido devido ao perigo representado pela possível queda de gelo ou pelo colapso da caverna, situação que está indicada no outdoor perto da caverna."

Equipes de resgate retiram corpo de brasileiro que morreu em caverna no Ushuaia, na Argentina 

Segundo relato postado no Instagram, o grupo civil disse que recebeu o pedido de resgate por volta das 16h de um turista que sofreu um traumatismo grave na cabeça.

A brigada foi acionada, mas quando chegou ao local a vítima já foi encontrada sem vida. Após uma operação de mais de 6 horas, os socorristas desceram o corpo e os outros turistas até uma base de operações.

Responsáveis pelo resgate conversaram com o g1 e disseram que a Justiça da Argentina está conduzindo uma investigação sobre o acidente.

Vídeo mostra turistas entrando na Cueva de Jimbo, na Argentina, onde a queda de bloco de gelo matou um brasileiro — Foto: Reprodução/Redes Sociais

A guarda nacional da Argentina informou que o turista viajava sozinho pelo país e que morava em uma kombi em um acampamento municipal.

O Ministério das Relações Exteriores disse, por meio de nota, que o Consulado-Geral do Brasil em Buenos Aires "vem prestando a assistência cabível à família da vítima, em coordenação com as autoridades locais e em conformidade com os tratados internacionais vigentes e com a legislação local". 

 

G1

 

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