Como molécula no intestino humano pode virar tratamento contra a gripe, segundo cientistas

 Marco Vinolo, professor do Instituto de Biologia da Unicamp — Foto: Antoninho Perri/Unicamp

A descoberta abre caminho para a criação futura de um medicamento ou suplemento capaz de combater a infecção, além de indicar um caminho pelo qual a microbiota interfere na resposta imune frente ao vírus influenza.

Um dos autores do estudo e professor do Instituto de Biologia da Unicamp, Marco Vinolo explica que os experimentos foram realizados na França a partir da infecção de camundongos com o vírus da influenza, causador da gripe.

Durante 14 dias, os pesquisadores analisaram amostras coletadas dos animais e pesquisaram a produção de moléculas pela microbiota intestinal, especialmente a presença do ácido indol-3-propiônico (IPA, na sigla em inglês).

“Com esses dados, juntamos essas informações e identificamos que a via de produção desse composto estava reduzida no animal infectado na fase aguda da doença, e aí veio a ideia de tentar suplementar isso e ver se revertia parte dos efeitos da infecção”, detalha.

Ao receberem suplementos com uma versão sintética do IPA, os camundongos tiveram a doença atenuada, segundo Vinolo. "Teve menos inflamação e uma quantidade de vírus menor no pulmão, indicando um benefício para a resposta contra o vírus".

O pesquisador detalha que, além da resposta ao vírus influenza, o IPA também é objeto de estudo de outros acadêmicos pelo mundo por ter diversos benefícios associados, incluindo, por exemplo, na resposta a tumores.

"Tem outro trabalho que mostrou benefício em um modelo de aterosclerose [enrijecimento das veias]. É algo que está sendo testado agora em vários modelos, e acho que há até estudos clínicos sendo feitos em humanos com esse composto para algumas condições específicas", pontua.

Influenza ou Covid? Entenda os sintomas e formas de contágio de cada doença

Aplicação em humanos

Para o futuro, os pesquisadores querem entender o mecanismo pelo qual o composto age no corpo humano. "Sabendo o mecanismo, a gente consegue utilizar moléculas mais potentes para atuar nesse sistema", explica Vinolo.

"Outro caminho é testar também com células humanas. Estamos fazendo alguns experimentos com células isoladas em laboratório e, dependendo do resultado, a ideia é realmente testar em uma pequena coorte de humanos. Indivíduos infectados, por exemplo", diz.

Caso os resultados sejam positivos, a ideia é que o IPA seja disponibilizado por meio de um medicamento, suplementos alimentares ou bactéricas específicas capazes de produzir o composto, com o objetivo de prevenir ou tratar os efeitos danosos da infecção. 

G1

Postagens mais visitadas