O presidente do
Senado Eunício Oliveira (MDB) teria recebido valores não declarados à
Justiça Eleitoral na sua campanha ao Governo do Ceará em 2014. É o que
afirma, em depoimento, a empresária Maurenizia Dias Andrade Alves, dona
do Instituto Campus, que prestou serviços à campanha do cearense, e
esposa de Paulo Alves, que atuou como marqueteiro do senador naquele
ano.
O vídeo com o depoimento de Maurenizia foi divulgado pela
revista Veja na tarde de ontem. Segundo a publicação, ele foi tomado
como base, junto com a delação do ex-diretor de Relações Institucionais
da Hypermarcas, Nelson Mello, para as investigações da Operação
Tira-Teima, deflagrada pela Polícia Federal na última terça-feira, 10,
nas cidades de Fortaleza, Goiânia e São Paulo.
Maurenizia afirma
que emitiu notas fiscais de empresas que, supostamente, pagavam por
serviços solicitados ao Instituto Campus, mas que nunca foram
prestados. Ela cita as empresas Hypermarcas e JBS, que já admitiram em
delações irregularidades no pagamento de propinas a políticos, e também a
cearense M. Dias Branco e a Corpvs Segurança. Desta última, um dos
donos é o próprio Eunício.
“O Instituto Campus, em 2014, recebeu
R$ 250 mil da empresa Dias Branco, R$ 250 mil da empresa Corpvs
Segurança e mais R$ 2 milhões da empresa JBS, e não houve até o momento
qualquer prestação de serviço a qualquer uma dessas três empresas.
Foram feitos apenas os recebimentos sem os serviços correspondentes”,
depõe Maurenizia.
“No caso das empresas Dias Branco e Corpvs,
houve os recebimentos (dos valores) e a emissão das notas fiscais, mas
não a formalização dos contratos; e, no caso da JBS, houve a
formalização de contrato, emissão de nota fiscal e recebimento”,
continua. Por duas vezes, ela diz que emitiu as notas por pedido de
Paulo Alves, que explicava que essa era a “maneira viável de ele
receber pagamento pelos valores pelos serviços que vinha executando na
campanha de Eunício Oliveira”.
Maurenizia cita a Hypermarcas,
mas não detalha qual o valor das notas emitidas da empresa. Em sua
delação, Nelson Mello afirma que pagou R$ 30 milhões a senadores do MDB,
dos quais R$ 5 milhões seriam à campanha de Eunício. Uma parte dos
valores teria sido destinada para custear “despesas de empresas que
prestavam serviços à campanha de Eunício” através de “contratos
fictícios”.
Por meio de nota, Eunício nega irregularidades. “As
contas da campanha do (então) PMDB ao Governo do Ceará em 2014 foram
aprovadas pela Justiça Eleitoral. Todas as empresas citadas doaram
legitimamente para o PMDB naquele ano, pois a legislação assim permitia
na época”, diz o texto.
Já a M. Dias Branco afirma que “não
realizou qualquer pagamento ao Campus Centro de Estudos e Pesquisa de
Opinião Ltda, ou Instituto Campus”. No dia 10, a empresa confirmou por
meio de outra nota que foi alvo de busca e apreensão da Operação e
disse que está colaborando com a Justiça. A Hypermarcas também confirma
as buscas no escritório de São Paulo e diz que não se beneficiou de
“quaisquer atos praticados” por Nelson Mello.
OPERAÇÃO
A
Operação Tira-Teima investiga se as empresas fizeram os repasses
clandestinos para obter vantagens no Congresso Nacional. A maioria das
informações até o momento, contudo, continua em sigilo.
O Povo