Dioceses da Itália confirmaram nesta sexta-feira, 20, a morte de 28 sacerdotes católicos disgnosticados com a Covid-19, doença provocada novo coronavírus. Outros
dois casos não chegaram a ser testados para doença. A maioria atuava na
região norte do país, a primeira a ser castigada pela epidemia e a que
concentra o maior número de testes positivos e de óbitos.
A Itália apresenta a situação mais crítica do mundo. O total de mortes
no país ultrapassou os da China na quinta-feira 19 e, quando alcançou
3.405. Há mais de 41.000 casos confirmados de contaminação.
Em Bérgamo, no norte, 10 padres morreram e 15 padres foram hospitalizados, segundo a diocese local. O papa Francisco telefonou
ao arcebispo Francesco Beschi na quarta-feira 18 para dar seu “apoio
aos padres, aos enfermos, aos que cuidam dos pacientes e a toda nossa
comunidade”. “Ele estava muito impressionado com o sofrimento que
padecem, pela morte solitária, sem a companhia das famílias, tão
dolorosa”, acrescentou Beschi em um comunicado.
Assim como acontece com a maioria das vítimas fatais do coronavírus na
Itália, os sacerdotes morrem sem acesso aos rituais religiosos que lhes
são caros. Ao lado de médicos e enfermeiras, os padres têm prestado
auxílio espiritual aos enfermos, uma missão necessária nessa região da
Itália particularmente religiosa. Apesar dos riscos, o pontífice
considera que “as medidas draconianas nem sempre são boas” e pediu aos
bispos e padres que não deixem os fiéis sozinhos ante o coronavírus.
“Equipados com máscara, gorro, luvas, blusa e óculos, os padres caminham
pelos corredores como zumbis”, conta Claudio del Monte, padre de uma
paróquia de Bérgamo, à agência italiana Adnkronos.
A rádio da Conferência Episcopal Italiana (CEI), InBlu, explicou que
devido às medidas para evitar a propagação do coronavírus, os padres
devem evitar a extrema-unção, o ritual de preparação para a morte, no
qual o enfermo terminal é ungido com o óleo bento.
“Um padre que perdeu o pai me ligou. Ele está em quarentena, a mãe está
em quarentena sozinha em outra casa, seus irmãos estão em quarentena e
os funerais estão proibidos. Será enterrado no cemitério sem que ninguém
possa participar de um momento de piedade humana e cristã”, contou o
arcebispo Beschi. O religioso considera o número de padres mortos em sua
diocese “realmente alto”, assim como o daqueles que estão em “condição
particularmente grave”.
“É doloroso ver os padres ficando doentes, às vezes por dever pastoral, e
passando pela porta da triagem (dos pacientes) onde, naturalmente,
ninguém pode entrar. Depois, alternando esperanças e recaídas, nos
deixam para sempre”, afirmou o bispo de Parma, Enrico Solmi, ao jornal Avvenire.
O governo italiano proibiu a celebração de missas,
casamentos e funerais. Centenas de falecidos, inclusive sacerdotes, tem
sido conduzidos por militares do Exército, em caminhões, para cemitérios
e crematórios no norte do país. Em Milão, os necrotérios não têm espaço
para acomodar os caixões e os enviam diretamente para o cemitério.
“Não sabemos mais onde colocar os mortos. Utilizamos algumas igrejas.
Tudo isso diz respeito aos sentimentos mais profundos” afirmou o
arcebispo Beschi, entrevistado pelo Vatican News.
(Com AFP)