Jati: rompimento em tubulação gerou vazão dez vezes maior e água arrastou postes, gerador e carro


Comporta aberta com muita água pressionando para sair pela tubulação por uma válvula com pouca abertura de liberação, gerando um efeito rebote, pode ter sido a causa do rompimento do tubo na barragem de Jati. Assim, pequena vazão de saída diante de uma forte vazão de entrada estaria relacionada com a pressão na tubulação.


Engenheiros no local ouvidos pela reportagem avaliam ser muito cedo para falar das causas, o que será objeto de estudo por uma consultoria independente, mas o descompasso das vazões registradas na válvula dispersora, entre 6m3/s e 7m3/s, e a da tromba d'água do rompimento, de até 70 m3/s, revelam como a forte pressão da água na parede da tubulação era muito maior do que a esperada no funcionamento normal.


Questionado, o engenheiro Tiago Portela, encarregado da operação pelo ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, admitiu o descompasso das vazões, mas preferiu a cautela: "é prematuro falar. A gente sabe que o rompimento foi uma onda de pressão muito grande, o que provocou esse 'golpe' que é prematuro falar. Vamos tentar uma empresa mais isenta possível, para não vir com vícios, e a gente saber exatamente o que ocorreu". O engenheiro, no entanto, admite que, como técnicos, ele e os colegas não viram "nenhum início de ação criminosa, mas quem sabe melhor isso são as autoridades de segurança".


Uma equipe da Polícia Federal esteve no local, mas não foi realizada nenhuma perícia. Enquanto a prioridade é recuperar a parede rochosa próxima à barragem, equipes de 200 servidores trabalham dia e noite no local.


A barragem tem aproximadamente 280 metros de base: 140 metros na parte que não tem água (jusante), até o eixo, e de lá para a parte que tem água são mais 140 metros. O jato d'água atingiu a parte externa em cerca de 60 metros. "A barragem vai ficar até mais segura do que antes. Quero tranquilizar a população que a gente está tomando todo cuidado possível", afirma Tiago Portela. A equipe do Ministério do Desenvolvimento Regional tem feito leituras na parede da barragem a cada seis horas, sem apresentação de nenhuma "alteração significativa".


"Escaparam por pouco, mas o carro a água levou"


Imagens dos primeiros instantes após o rompimento da tubulação na barragem de Jati mostram, pelo menos, quatro camionetas estacionadas próximas à casa de vigilância. Lá estavam comandos eletrônicos que faziam parte do monitoramento da própria estrutura. O barulho provocado pela explosão da tromba d'água fez os funcionários correrem para os veículos. Trabalham para a Magna Engenharia, empresa que faz consultoria na obra. Ivanildo, um dos funcionários da empresa, não consegue retornar para o carro em que estava anteriormente e procura outra saída. Colegas relataram que o momento era de "pânico".


O veículo que estava mais próximo da água é o primeiro a arrancar em fuga, restando outros três. Virada para a direção do rombo, tendo que dar ré para sair, estava a Amarok com Ivanildo e pertencente à Magna Engenharia, deixada para trás e levada pela força das águas. "Era um momento que não dá pra pensar muito, tem que sair dali. Escaparam por pouco, mas o carro a água levou", descreve um dos funcionários que observaram a rápida ação.


"Até o momento a gente não encontrou. O motorista tentou manobrar pra sair. Ficou em pânico, entrou em outro carro e saiu junto. A camioneta ficou lá e acabou sendo levada", explica Tiago Portela, engenheiro do MDR e coordenador da operação de recuperação da infraestrutura.


Somente após a recuperação do barramento e apuração das causas do rompimento as equipes deverão ver a possibilidade de encontrar o veículo, se está soterrado próximo à válvula ou se foi arrastado para mais longe.

O POVO

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