Moradores do Icaraí temem desabamento de prédio após muro cair por avanço do mar

 Muro de condomínio no Icaraí, em Caucaia, desabou com força da maré nesta segunda-feira (10). — Foto: Arquivo pessoal

O dia de quem mora no condomínio Panorama Privée, no Icaraí, em Caucaia, começou com um susto nesta segunda-feira (10). Parte do muro do terreno desabou com o avanço do mar na região, e moradores do local temem que o mesmo ocorra com o prédio devido à erosão na orla.

Às 5h20, um trecho do muro do condomínio caiu após ser atingido por ondas. Equipe da Defesa Civil de Caucaia foi ao local na manhã desta segunda e isolou parte da área interna do prédio. Registro da ocorrência da equipe apontou que o muro ficou parcialmente tombado, com "risco iminente prévio observado" causado pela "erosão costeira e/ou marinha". O resto do muro, segundo o documento, "está nitidamente inclinado e vulnerável".

O g1 apurou que a interdição do imóvel não foi necessária, mas a equipe do órgão deve voltar ainda nesta segunda ao local para verificar necessidade de mais ações, dada a cheia da maré com o decorrer do dia. No bloco mais próximo ao muro, residem cinco famílias. 

A agricultora Marly Ribeiro, residente do condomínio, relatou que moradores e a síndica do local já supunham que um acidente ocorreria na área por causa da movimentação do mar. Segundo ela, a maré oceânica passou a ficar com mais força em setembro, chegando a avançar vários metros no sentido da edificação.

"[Estou] apavorada. A palavra correta é apavorada [...] Devido à minha doença, de ser diabética e hipertensa, eu estou passando por sérios problemas de saúde, sem dormir. Essa noite foi uma que eu não dormi; quando foi de manhã, aconteceu o que a gente já previa".

A condômina atribuiu o problema à construção do campo de espigões do Icaraí, iniciado em abril deste ano. A obra prevê a construção de 11 espigões na orla de Caucaia, devendo ter a primeira fase de requalificação do litoral, com os três primeiros espigões, concluída neste mês de outubro, segundo a prefeitura.

"Foi assim, do dia pra noite, em poucos dias, que levou tudo [...] O mar avançava, mas lentamente. Com essa construção, foi de repente, foi imediato que a areia, a contenção, as dunas que tinha foram embora todas".

Além da queda do muro, o problema atingiu uma tubulação de água do local, segundo a síndica do condomínio, Elizabeth Sampaio. De acordo com ela, o equipamento foi rompido e houve vazamento de água no local, mas o material foi retirado nesta manhã.

O g1 questionou a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) sobre o rompimento da estrutura e a continuidade de serviços de água e esgoto no local, mas não recebeu retorno até a última atualização desta matéria.

Busca por soluções

Elizabeth Sampaio disse que passou a perceber mudanças na região no dia 6 de setembro, quando moradores notaram uma "movimentação estranha do mar" e um "avanço muito violento que não acontecia". Três dias depois, ela registrou fotos da maré, a qual estava "altíssima".

Já no dia 12 de setembro, ela chamou a Defesa Civil para verificar o local. Segundo ela, a equipe afirmou que, naquele momento, a queda do muro seria uma "questão de horas". Elizabeth Sampaio relatou ter buscado a Secretaria de Infraestrutura (Seinfra) de Caucaia, mas não conseguiu resposta do órgão sobre o caso.

Em razão disso, ela alugou o serviço de uma retroescavadeira para fazer uma contenção com areia da região ao redor do condomínio, seguindo autorização do Instituto de Meio Ambiente de Caucaia (Imac). No entanto, a obra, que ficou com oito metros de base e 4,5 metros de largura, foi destruída pelo mar um dia após ficar pronta.

Depois do ocorrido, a síndica afirmou buscar o Ministério Público do Estado (MPCE) para realizar alguma intervenção no local. O órgão, porém, teria apontado que apenas a gestão municipal poderia fazer uma nova obra com essa finalidade na área, dado que a prefeitura é responsável pela obra dos espigões.

"O que faltou foi uma prevenção e um estudo prévio, que fizessem contenções já prevendo que isso iria acontecer. Nos faltou essa providência da prefeitura", frisou a síndica, acrescentando que a gestão enviou equipe de engenheiros nesta manhã para vistoriar o local e fazer alguma intervenção a fim de conter o problema.

"Estamos aqui em pânico, porque são vidas, são nossos bens materiais. Alguns só têm esse bem para poder dormir e viver", afirmou.

Obra dos espigões

O secretário de Infraestrutura de Caucaia, André Daher, afirmou que a implantação do campo de espigões no município visa a defender 7,7 quilômetros (km) de praia. No entanto, a obra só abarcou 2,1 km até o momento, e a gestão ainda tem muito a fazer até a intervenção ser concluída.

"Nós continuamos tendo intercorrências; são eventualidades pontuais", disse o titular da pasta, incluindo que a gestão tinha conhecimento da degradação da área de condomínios na região.

Após o episódio desta segunda-feira, a pasta iniciou uma obra de enrocamento de pedras, de forma a conter a erosão na área. "Hoje nós entramos com a proteção linear em pedras, para que se garanta a estabilidade. A intervenção começou a ser realizada, segundo ele, na região em que havia mais moradores, com risco maior nas habitações, além da perda de patrimônio".

"Nós estamos executando esse projeto com o maior cuidado possível, e também para não interferir na vida das pessoas durante as obras [...] Nós vamos continuar tendo essas eventualidades, mas a prefeitura vai estar alerta", garantiu.

 

 

(g1)

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