Casos de intoxicação por metanol no Brasil fazem dobrar demanda por bebidas regionais no Ceará

 Imagem de dispositor de bebidas na embaixada da cachaça, em Fortaleza

Com a onda de casos de intoxicação por metanol, associada à ingestão de bebidas alcoólicas adulteradas, a procura por destilados produzidos artesanalmente no Ceará chegou a dobrar, segundo a indústria local. 

O Brasil já confirmou 11 ocorrências de intoxicação por metanol, incluindo um óbito, em São Paulo. Há outras 11 mortes em investigação.

No total, são 113 casos suspeitos em todo o País, com registros também em Pernambuco, Bahia e Mato Grosso.

Mesmo sem registros no Ceará, o temor de que a adulteração tenha abrangência nacional gerou apreensão entre clientes e profissionais da área de bebidas. Diversos bares e restaurantes têm reafirmado que operam com fornecedores homologados.

Alguns estabelecimentos também têm deixado de usar bebidas nacionais para valorizar produtos locais, gerando aumento na demanda por essas opções. 

Imagem mostra nota do bar

Legenda: O bar Motolibre, na Praia de Iracema, foi um dos que adotou protocolo para priorizar bebidas locais, permitindo o rastreio da cadeia produtiva, informou o estabelecimento em nota.

Foto: Reprodução Instagram

Produtores cearenses relatam aumento de até 100% 

A procura por bebidas produzidas no Ceará fez o número de vendas da Donteresa, sediada no Eusébio, dobrar na última semana, aponta Henrique Plutarco, sócio da empresa.

A fabricante viu crescer a procura de restaurantes e também de pessoas físicas. “Os produtos mais procurados são os que mais têm tendência à falsificação: vodca e gin. Na hora de apresentar as bebidas, já mostramos a certificação, autorização e laudos necessários”, conta.

A empresa tem um portfólio artesanal que inclui Gin Ará, vodka, rum envelhecido, vermute e negroni, produzidos em lotes de até 100 litros por processo.

"Como é um produto local, temos controle total de todos os lotes e de quem vende. Em Fortaleza, temos 47 clientes e outros pontuais em praias e cidades. Além disso, adotamos uma política de devolução das garrafas vazias: cerca de 80% das que vendemos voltam para nós”, explica.

TRANSPARÊNCIA NO PROCESSO DE PRODUÇÃO

A transparência no processo de produção também atraiu clientes para a Cachaçaria Viçosa Real, que tem fábrica em Viçosa, no Ceará. A empresa registrou alta de 50% nos pedidos nesta semana. 

“A exposição do nosso processo fabril já faz parte da nossa empresa. Nosso espaço de produção é aberto à visitação. Além disso, sempre estamos buscando novas qualificações”, afirma Virllane Nogueira Bezeraa, gerente de marketing da cachaçaria.

Com o aquecimento da demanda, a empresa precisou aumentar a produção para enviar à distribuidora da Capital. Além de cachaças, a fabricante trabalha com gin. 

“Estamos tendo visibilidade e retorno de bares e restaurantes que querem se certificar de que não estarão correndo o risco de servir aos seus clientes alguma bebida contaminada”, aponta. 

A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Ceará (Abrasel-CE) afirmou que ainda não há percepção de diminuição de demanda por bebidas ou crescimento da procura por certos produtos.

As vendas têm seguido um padrão normal, segundo Taiene Righetto, presidente da associação. A entidade promoveu treinamento para profissionais do setor e reforçou recomendações a estabelecimentos e clientes. 

Os consumidores devem priorizar comprar de estabelecimentos regularizados, exigindo a nota fiscal. É preciso averiguar possíveis inconsistências nos rótulos e lacres dos produtos. 

INTOXICAÇÃO POR METANOL PODE LEVAR À MORTE

A recomendação do Ministério da Saúde é que a população evite o consumo de bebidas destiladas se não souber a origem da fabricação.

As investigações ainda não identificaram se o erro ocorre no processo de destilação ou envazamento das bebidas. Operações interditaram bebidas e estabelecimentos em São Paulo e no Distrito Federal.

A intoxicação por metanol representa um dano grave à saúde. A substância é altamente inflamável e provoca intoxicação grande já em pequenas quantidades. Quando ingerido ou em contato com a pele, pode provocar cegueira e até a morte. 

Os principais sinais são visão turva, perda de visão e mal-estar generalizado (náuseas, vômitos, dores abdominais, sudorese). Em casos de identificação dos sintomas, é preciso procurar serviços de emergência média e entrar em contato com pelo menos uma das instituições:

  • Disque-Intoxicação da Anvisa: 0800 722 6001;
  • Ciatox Ceará: 3255-5012/ 3255-5050; WhatsApp: (85) 984397494; 
  • Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo (CCI): (11) 5012-5311 ou 0800-771-3733 – de qualquer lugar do país.

DN

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