A Polícia Civil do Ceará prendeu na noite de ontem o técnico de
radiologia Patrick Gomes do Nascimento, 26, suspeito de pelo menos
quatro estupros em Fortaleza. Segundo investigação, as vítimas eram
raptadas após pedirem corridas em aplicativos de transportes e levadas
para uma região deserta do bairro Dunas, onde eram violentadas, filmadas
e ameaçadas.
Para
encobrir rastro dos crimes, o motorista teria utilizado diversas
contas falsas nos aplicativos, alimentadas com informações de pacientes
de clínicas médicas onde o suspeito trabalhava. Em pelo menos dois dos
casos, registros no 99Pop continham documentos e identidade de pessoas
inválidas, uma delas internada em Unidade de Tratamento Intensivo.
"Eu
achei muito estranho, porque fui chamada para reconhecer um dos
suspeitos, e ele não tinha movimento das pernas. Não podia nem
dirigir", disse, em entrevista ao O POVO, uma das vítimas. Buscada por
Patrick à 1h02min de 22 de junho, a jovem viveu 24 minutos de terror no
carro do criminoso. Um mês depois, ela e outra vítima reconheceram o
agressor à polícia.
Segundo investigação do Departamento
de Inteligência (DIP) e do 15º Distrito Policial (Cidade 2000), crimes
seguiam modus operandi semelhante, sempre em veículo Logan preto. Ao
chegar ao ponto inicial das viagens, o abusador chamava as vítimas pelo
nome e pedia a elas que sentassem do seu lado no banco da frente.
Depois, ele desviava do caminho original em direção a um terreno baldio
nas Dunas.
Após agredir e obrigar as vítimas a realizar
atos sexuais, o criminoso roubava pertences das jovens e as abandonava
no local. Para receber socorro, elas precisavam correr até um condomínio
próximo, a cerca de 500 metros. Segundo a investigação, uma das
mulheres conseguiu escapar do abuso após arremessar o celular no rosto
do acusado e se jogar do carro.
As vítimas eram todas
jovens, entre 20 e 25 anos de idade, e foram raptadas em bares
movimentados da Aldeota, na avenida Barão de Studart. No momento em que
pediam as corridas, elas voltavam para casa, em bairros afastados, de
saídas com amigos de faculdade. O perfil do agressor, jovem, bem
vestido e de fala calma, não intimidava as mulheres a princípio.
A
vítima que conversou com O POVO disse ter recebido diversos socos e
tapas do suspeito, que ainda a filmou durante a agressão. "Eu o tempo
inteiro chorando, dizendo 'por favor, para'. Eu tinha certeza de que
ele ia me matar", relembra. "Eu dizia 'se você vai fazer isso, me mate
logo', e ele respondia 'você quer morrer? (...) vou te matar cortando
seu pescoço", relata.
Todas as informações foram
confirmadas ao O POVO por fontes oficiais da DIP e do 15º DP, que tocam
conjuntamente a investigação e prestaram todo acompanhamento jurídico e
psicológico às vítimas. O pedido de prisão temporária de Patrick, com
prazo de cinco dias, foi apresentado na semana passada pelos delegados
do caso e deferido na noite de ontem pela Justiça. Além disso, foi
solicitada também a quebra de sigilo telefônico do acusado.
A
Polícia Civil chegou ao suspeito após a própria 99Pop colaborar com a
investigação e apontar outras contas cadastradas no sistema com viagens
frequentes ao mesmo local. Como esses perfis, ligados a Patrick,
teriam voltado ao terreno das Dunas após os casos já conhecidos, os
delegados esperam que surjam novas denúncias contra o suspeito. A
Polícia também avalia possível responsabilidade da empresa no caso.
O
suspeito foi preso em casa no final da tarde de ontem por duas equipes
da Polícia Civil em viaturas descaracterizadas. Primeiro, ele foi
levado à sede da Perícia Forense do Ceará (Pefoce), onde foi submetido a
exame de corpo de delito. Depois, Patrick teria sido encaminhado ao
Complexo de Delegacias Especializadas (Code), onde ficará em uma cela
separada dos demais presos.
O Povo